Sabe, eu não consigo me concentrar
voltei para casa procurando em
outros rostos aquele olhar, que custeou
todo o peso do meu medo de um dia ter acreditado
amar.
Este coração calejado que habita um corpo
marginalizado por não se enquadrar nos padrões
é obrigado a manter-se calado.
Então caminho até a cozinha e me pego pensando
por onde você deve de estar andando. Enquanto adoço o café
sinto o gosto amargo da vida que por um tempo andou tão
fria quanto está bebida que goela abaixo vou ingerindo,
mas é impossível de ser digerida, mas engulo, já que não vejo saída.
Acendo um cigarro e ligo a TV, o algoz vem via satélite
e não é bem isso que eu quero ver,
o que eu queria mesmo era estar na marginal Tiete seguindo as placas que me levaram a você.
Em cinzas o cigarro se desfez e não precisei tragar sequer uma vez,
assim a vida vai fazendo comigo sem que eu perceba vou sendo consumido.
Tive a minha subjetividade saqueada e tudo que planejei não me serviu pra nada, já que nesse jogo eu fui a carta marcada.
Por hoje todo peso que sinto vai se desfazendo a cada palavra
que vou escrevendo, com o tempo contado, mas com o corpo conformado, eu me desprendo do sistema que me manteve algemado.
Se você soubesse o quanto me libertou, eu voltaria atrás, mas agora
tanto faz, já que esse nó não se desfaz.
Vão dizer que fiquei louco, ou rotular como depressão, mas a escolha que fiz foi a de libertar esse coração, eu prefiro a corda no pescoço à sobreviver nesse mundo cão.
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