segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Desembarcando da vida.

 Sabe, eu não consigo me concentrar
voltei para casa procurando em 
outros rostos aquele olhar, que custeou
todo o peso do meu medo de um dia ter acreditado 
amar.
 Este coração calejado que habita um corpo 
marginalizado por não se enquadrar nos padrões
é obrigado a manter-se calado. 
 Então caminho até a cozinha e me pego pensando
por onde você deve de estar andando. Enquanto adoço o café
sinto o gosto amargo da vida que por um tempo andou tão
fria quanto está bebida que goela abaixo vou ingerindo,
mas é impossível de ser digerida, mas engulo, já que não vejo saída.
 Acendo um cigarro e ligo a TV, o algoz vem via satélite
e não é bem isso que eu quero ver, 
o que eu queria mesmo era estar na marginal Tiete seguindo as placas que me levaram a você. 
 Em cinzas o cigarro se desfez e não precisei tragar sequer uma vez,
assim a vida vai fazendo comigo sem que eu perceba vou sendo consumido. 
 Tive a minha subjetividade saqueada e tudo que planejei não me serviu pra nada, já que nesse jogo eu fui a carta marcada.
 Por hoje todo peso que sinto vai se desfazendo a cada palavra 
que vou escrevendo, com o tempo contado, mas com o corpo conformado, eu me desprendo do sistema que me manteve algemado. 
 Se você soubesse o quanto me libertou, eu voltaria atrás, mas agora
tanto faz, já que esse nó não se desfaz. 
 Vão dizer que fiquei louco, ou rotular como depressão, mas a escolha que fiz foi a de libertar esse coração, eu prefiro a corda no pescoço à sobreviver nesse mundo cão.

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

O marginal

Foi dentro de um vagão de trem cheio
que eu me senti
a pessoa mais vazia, mal me movimentava 
e sentia a falta de uma companhia.

Ao meu redor todos estavam conectados
aos tablets, smartphones, fones de ouvido
ipod.
Ao mundo irreal conhecido como virtual
porque hoje é la que as pessoas guardam os
seu amigos.

Estação da sé a campainha tocou,
a porta se abriu, da maneira que
eu entrei a forma que sai, ninguém notou,
mas fui carregado por um monte de corpos vazios.

Vazio. 
O povo esgotado 8 horas de trabalho
4 horas dentro da sala de aula trancado
e o único momento descanso é em pé dentro
de um transporte coletivo lotado.

Pessoas vão e vem, o que um dia
chamaram de navio negreiro  
hoje em dia anda sobre trilhos
e chamamos de trem.

Somos escravos, recebemos ordens 
a todo momento.
produza, faça trabalhos, realize provas
pesquise, passe no vestibular, arrume um emprego
porque para o sistema são esses os princípios que dignificam 
a vida
E a carteira de trabalho e a nossa carta de alforria.

Na televisão nos jornais deram letras e nos dividem
em classes sociais. Mas essa balela não
me engana não, dizer que o individuo
que anda de carro do ano, usa iphone, mora
no jardins é o ser humano em ascensão?

Falou, eu estou tranquilo, agora
prossigo dentro de um novo vagão
rodeado por amigos. Conectados
pela poesia, pela musica, pela arte, pelas
necessidades de cada coração que bate.

Prosseguindo na contra mão sou marginalizado
pelo sistema, mas aí qual o problema?
Quero deixar bem claro que dentro dos meus braços
cabem todos os seus abraços
e apenas com essa coisa de "touch screen" eu não me satisfaço.